Ontem assisti, na casa de um
amigo cinéfilo, La Grande Bellezza de Paolo Sorrentino, vencedor do Oscar de
melhor filme estrangeiro. Sinceramente, não o achei um filme marcante, daqueles destinados a se tornarem imprescindíveis. Me pareceu
mais uma colcha de retalhos, essencialmente mal costurada, de clichês estéticos
e temáticos sobre a Itália, elevando uma Roma a meio caminho entre folheto
turístico e caricatura felliniana a emblema par excellance desse concentrado de
lugares comuns: uma varanda com vista no Coliseu servindo de palco para noites
boêmias regadas a bebida, sexo e vazio existencial; suntuosos palácios antigos
repletos de estátuas, fontes, igrejas, parque constelados de ruínas de um
passado que - claro! - continua estendendo sua sombra gigante e opressiva sobre
o presente (o que é, afinal, a Itália para a maioria dos estrangeiros se não
ruínas eternas de um glorioso passado?); um desfile de personagens grotescos,
caricatos, estéreis sombras do mundo de Fellini sem nada de novo e autêntico a
acrescentar debruçados sobre o vazio de uma existência mundana entremeada de
tédio, a um só tempo deprimente e exuberante; a inevitável Igreja Católica com
sua hipocrisia, seu apreço por riqueza e poder, suas hostes de cardeais
frívolos e cínicos e suas santas pobres e de fé autêntica que resgatam os verdadeiros
valores da cristandade.
Acrescente-se uma boa dose de
cenas inutilmente "fellinianas" - só na superfície, sem chegar a
sequer roçar o âmago autêntico, visceral do universo do mestre - totalmente
desnecessárias no contexto da narrativa e teremos um coquetel perfeito para o
Oscar.
Enfim, um longa "para americano
(e brasileiro, etc.) ver", um produto sistemática e friamente calculado
para agradar o paladar cinematográfico internacional, especialmente
norte-americano, e para ganhar a cobiçada estatueta. Só não é uma obra
totalmente descartável pela bela interpretação de Sabrina Ferilli, pela
razoável caracterização do personagem central - o desencantado, cínico e boêmio
ex-escritor Jep Gambardella - feita por Toni Servillo, e pela genialidade de
alguns diálogos e monólogos.
Logo após a exibição terminar,
a frase è solo un trucco (é só uma ilusão) - com a qual o
protagonista encerra o longa - nos pareceu, a mim e a meu anfitrião, uma
perfeita síntese da obra.
Assista o trailer de La Grande Bellezza: http://www.youtube.com/watch?v=wKvCxmQQ3IA
Nenhum comentário:
Postar um comentário