domingo, 9 de março de 2014

"A Grande Beleza" está mais para "O Grande Engodo"


Ontem assisti, na casa de um amigo cinéfilo, La Grande Bellezza de Paolo Sorrentino, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. Sinceramente, não o achei um filme marcante, daqueles destinados a se tornarem imprescindíveis. Me pareceu mais uma colcha de retalhos, essencialmente mal costurada, de clichês estéticos e temáticos sobre a Itália, elevando uma Roma a meio caminho entre folheto turístico e caricatura felliniana a emblema par excellance desse concentrado de lugares comuns: uma varanda com vista no Coliseu servindo de palco para noites boêmias regadas a bebida, sexo e vazio existencial; suntuosos palácios antigos repletos de estátuas, fontes, igrejas, parque constelados de ruínas de um passado que - claro! - continua estendendo sua sombra gigante e opressiva sobre o presente (o que é, afinal, a Itália para a maioria dos estrangeiros se não ruínas eternas de um glorioso passado?); um desfile de personagens grotescos, caricatos, estéreis sombras do mundo de Fellini sem nada de novo e autêntico a acrescentar debruçados sobre o vazio de uma existência mundana entremeada de tédio, a um só tempo deprimente e exuberante; a inevitável Igreja Católica com sua hipocrisia, seu apreço por riqueza e poder, suas hostes de cardeais frívolos e cínicos e suas santas pobres e de fé autêntica que resgatam os verdadeiros valores da cristandade.

Acrescente-se uma boa dose de cenas inutilmente "fellinianas" - só na superfície, sem chegar a sequer roçar o âmago autêntico, visceral do universo do mestre - totalmente desnecessárias no contexto da narrativa e teremos um coquetel perfeito para o Oscar.

Enfim, um longa "para americano (e brasileiro, etc.) ver", um produto sistemática e friamente calculado para agradar o paladar cinematográfico internacional, especialmente norte-americano, e para ganhar a cobiçada estatueta. Só não é uma obra totalmente descartável pela bela interpretação de Sabrina Ferilli, pela razoável caracterização do personagem central - o desencantado, cínico e boêmio ex-escritor Jep Gambardella - feita por Toni Servillo, e pela genialidade de alguns diálogos e monólogos.


Logo após a exibição terminar, a frase è solo un trucco (é só uma ilusão) - com a qual o protagonista encerra o longa - nos pareceu, a mim e a meu anfitrião, uma perfeita síntese da obra.

Assista o trailer de La Grande Bellezzahttp://www.youtube.com/watch?v=wKvCxmQQ3IA

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