No
vórtice da multidão, nos embriagamos de uma excitante miragem: cavalgamos a
ilusão de arrebentar as correntes do cotidiano, de explodir a jaula das
rotinas, dos hábitos e convenções... Copulamos com o mito da liberdade e a
liberdade, enquanto a penetramos embevecidos de euforia, vai deslizando suas
garras por nossas costas, dilacerando silenciosamente nossa carne. Bêbados de
cerveja e devaneios, alardeamos aos gritos nossa alforria enquanto cada uma de
nossas amarras, rastejando sem fazer barulho, nos aperta ainda mais as
entranhas. Três sendas se bifurcam à nossa frente. Na primeira somos engolidos
pelo excitante turbilhão dessa quimera; atordoados, sucumbimos felizes à
ditadura do que nos fizeram crer ser o que escorre em nossas veias. Na segunda
simplesmente seguimos em frente; deixamos a correnteza moldar o ritmo e o rumo
de nosso andar, suspendemos o crer; somos puro agir, agir sem motivo e sem
meta, agir multidão. Ao enveredarmos pela terceira senda cruzamos olhares e, às
vezes, reconhecemos o outro e suas amarras. Ao enxergar o delírio do outro,
sentimos de repente o aperto silencioso de nossas próprias correntes.
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