Poesia
não é negação de prosa: é faísca, desvio, gozo, é um relâmpago de improvável, é
incerteza, arrepio, crespa que se abre brecha no tecido liso da palavra. Poesia
é o cotidiano aos olhos de um viajante. Poesia não é verso: é a palavra
instável, inadequada, obscena, inútil, por isso mesmo a palavra
imprescindível, onde quer que desabroche. Poesia é sujeira, é merda, é esperma,
é mijo, é vômito, é medo, é neurose, é obsessão, é entrelinha, é a beleza, a
impermanência, a verdade e a mentira de tudo isso: poesia é abrir os olhos e
estar aqui. Somos todos prosadores, soltando vez por outra fagulhas de poesia.
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